introdução do Cristianismo na ilha de Timor por os dominicanos

Desde 1512 até 1556, não se encontram dados históricos sobre a introdução do Cristianismo na ilha de Timor. Entretanto, sabemos que em 1542, já o padre Francisco Xavier, sj, mais tarde Santo, andava evangelizar Malaca, Molucas e outras ilhas do Oriente.

As primeiras noticias sobre as conversões em Timor, são dadas pelo padre dominicano Frei Gaspar da Cruz, que no prólogo do livro “Tratado em que se contam por extenso as cousas da China com sua particularidades, assi do Reyno de Ormuz, Évora, 1569”, refere, que no ano de 1556, um frade da Ordem de São Domingos, Frei António Taveiro, ou Taveira, teria baptizado 5 mil pessoas em Timor e em Ende. Outras referências são dos Jesuítas, P.e. Baltazar Dias, que a 3 de Dezembro de 1559, escrevia de Malaca, para o Provincial, em Goa, dizendo:

 

“ O que tenho coligido de Timor e Solor, como de outras partes que direi o seguinte: “A este Solar e Timor partem daqui em suas monções: a saber, uma no fim de Setembro, e outra na entrada de Fevereiro, e o mesmo de lá duas vezes no ano, a saber : Junho e em Outubro. A gente de Timor he a mias besta gente que há nestas partes. A nenhuma cousa adoram, nem tem ídolos: tudo quanto lhe dizem os portugueses, fazem”. De fronte a este Solar, três léguas, está uma ilha muito grande (Flores), onde haverá duzentos e mais cristãos, que fez um João Soares. Outra noticias sobre Solar e as ilhas da Insulindia é dada pelo padre Jesuíta Luís Fróis. (carta de 1561). Estes dois jesuítas não falam do Padre António Taveira, aquele que convertera 5 mil pessoas. Fosse como fosse, as notícias da existência de pequenos núcleos de cristãos nas Ilhas dos mares do Sul, chegaram ao conhecimento do primeiro Bispo de Malacia, o Dominicano, Dom Frei Jorge de Santa Luzia.

A Diocese de Malacia foi criada pela bula” Por excellenti”, de 4 de Fevereiro de 1557, pelo Papa Paulo IV, a pedido do rei Dom João III. Este bispo depois de ter sido consagrado em Lisboa, em 1558, chegou a Malaca em 1561. Uma das iniciativas que tomou foi enviar uma missão à Ilha de Solar, missão essa constituída por 4 membros, dos quais apenas sabemos os nomes de três: Padre Fr. António da Cruz (superior), Frei Simão das Chagas, e leigo irmão Aleixo.

Foi a partir da Ilhas de Solar, que se fez a expansão missionária para outras ilhas, entre quais Timor.Um dos dominicanos que se tornaram célebres reconstrução da fortaleza de Solar, foi o Fr. Miguel Rangel, que mais tarde, foi nomeado Bispo de Cochim (1634). Foi Frei Miguel, enquanto Superior de Solar, quem levou de Portugal 12 missionários, e uma vez chegado a Solar, distribuiu-os por diversas ilhas. Entre os doze companheiros de Miguel Rangel, destacou-se um que havia de ficar célebre na história de Timor. Trata-se do padre Frei António de São Jacinto, um dos primeiros apóstolos de Timo. No dia 24 Junho de 1641, ele baptizou a rainha de Mena, o príncipe herdeiro, a quem pôs o nome de João, e os grandes daquele reino. Nos princípios de Julho passou ao reino de Lifau , aí baptizou a rainha de Liafau (Oe-Cusse), e o filho, príncipe herdeiro e quatro filhas Mais tarde, levou a rainha de Cupão (Koepang), a submeter-se à Coroa Portuguesa. Frei António de S. Jacinto lançou as bases de missionação nas terras de Timor, com o envio de missionários para Lifau, Mena, Amanuban e Luca.

Quanto aos seguidores do padre António Taveira (1566). Em 1590, o padre Frei Belchior da Luz, desembarcou em Mena. Obteve do régulo local, licença para pregar e construir uma capela. Ma o seu precário estado de saúde não lhe permitiu muita actividade, pelo que regressou a Malaca, levando consigo o príncipe herdeiro, que foi baptizado em Malacia, pelo Bispo Dom João Ribeiro, com o nome de Dom Loureço. Regressando a Timor, e não havendo acompanhamento espiritual, o príncipe voltou ao paganismo.. Em 1633, o Padre Frei Cristóvão Rangel, companheiro de Miguel Rangel na reconstrução da fortaleza de Solar, desembarca em Silawan, um suco a oeste de Batugadé, baptiza o régulo, dando-lhe o nome de Cristóvão. Com a ajuda do chefe recém convertido levanta uma capela e inicia a catequisação dos habitantes do reino. Infelizmente, foi envenenado pelos mouros de Macáçar (Celebes), os quais frequentava, as praias de Batugadé, Vemasse e Laga e Lautem, e mantinham relações com o reino de Cowa (um suco do sub-distrito de Balibó). O frade dominicano, com a saúde arruinada, teve de regressar a Goa.

Em 1636, outro dominicano, o padre frei Rafael da Veiga, que havia missionado a ilha de Savu, abandona aquela ilha, e desembarca na praia de Batu Putih, no reino de Amabi, no extremo ocidental da ilha de Timor. Foi bem recebido pelo chefe e pelas populações. Converteu o régulo, e erigiu uma igreja escola e uma escola.

Como se disse acima, Frei António de São Jacinto, como vigário geral da Cristandade de Solar, Larantuca, em 1642, colocou dois missionários em Mena Frei Bento Serrão e Frei Manuel da Ressurreição) e outros dois em Lifau ( Frei Pedro de São José e Frei Álvaro de Távora), e um no Reino de Amanuban (Frei Jacinto de são Domingos), mais tarde, abriu-se um centro missionário em Luca. Foi a partir deste período que os dominicanos começaram as viagens para a parte oriental e central da ilha de Timor, abrindo centros missionários na costa norte: Lifau, Oe-Cusse, Batugadé, Cotubaba (Atabe). Maubara, Dili, Manatuto, Vemasse. E na costa sul: Batu Putih, Amanuban, Camanasa, Suai-Loro, Rai-mean, Kirás, Lacluta, Wesoro. Pela dinâmica introduzida pele Padre António de São Jacinto, aumentaram os dominicanos em Timor, pois como diz Bento da França, “existiam em Timor, em 1640, 10 missionários para 22 igrejas” ( cf. Bento da França, Macau e os seus habitantes. Relações com Timor. Lisboa, 1897, p. 255).

Acerca da acção do Frei António de S. Jacinto, diz o professor e historiador Teodoro de Matos: “Aos nomes dos dominicanos Belchior da Luz, Cristóvão Rangel e Rafael da Veiga veio juntar-se outro não menos digno. É o padre Frei António de São Jacinto a quem se ficou a dever muitos regulados timorenses à Coroa portuguesa. Missionário inteligente, devotado e activo, procurou conciliar os interesses da religião com os da Pátria” (In Timor Português 1515-1769, Lisboa, 1974, p. 51).

Frei António De São Jacinto foi mandado regressar a Goa em 1644. Em 1668, foi nomeado o Governador do Bispado de Malacia, com residência em Lifau, Timor, o padre frei Duarte Travassos. Por se ter oposto `as práticas gentílicas durante o funeral do chefe local, foi morto às azagaiadas, em 1670.

Segue-se um período de escassez de dados, até o ano de 1698, ano em que chega a Timor, um frade dominicano natural de Goa, frei Manoel de Santo António. Pelo seu zelo missionário e pelo seu patriotismo, foi nomeado Bispo de Malacia, em 1702, fixando a residência em Lifau. Dom Frei Manuel de Santo António ajudou o desembarque do primeiro governador de Timor, António Coelho Guerreiro. O novo Bispo teve muitos conflitos com os governadores e com o Arcebispo de Goa. 1617, foi nomeado governador interino de Timor. Em 1722, foi expulso de Timor pelo governador António Coelho de Albuquerque. De 1719 a 1726, deu-se a revolta de Cailaco. Nesse período dois missionários foram assassinados, igrejas e capelas foram incendiadas e objectos sagrados destruídos.

No ano de 1739, foi nomeado Bispo de Malaca, Dom António Castro, da Ordem de Cristo, ou de Tomar. Foi no seu tempo que se abriu o primeiro seminário em Oe-Cusse, cuja direcção foi entregue a dois sacerdotes oratorianos de Goa. Não sabemos se os alunos chegaram a ordenar-se. Morreu em 1743 em Lifau, com apenas 38 anos de idade e dois de governo. O seu sucessor, foi Dom Frei Gerardo (ou Geraldo) de São José, O.P. Nomeado Bispo de Malaca em 1748, mas só chegou a Timor em 1750. No seu tempo abriu-se o segundo seminário em Manatuto, a cargo dos dominicanos. Nesse ano, havia em Timor 15 igrejas. E os frades dominicanos eram 17.

Sobre este período dos dominicanos, o vice-rei Marques de Castelo Novo (1744-1750) dava esta apreciação negativa: “ exceptuando duas, todas as igrejas, não tinha portas nem paramentos, dizendo-se missa apenas nos domingos e dias santos, com pouca decência, por falta de paramentos e de altar condigno para tão alto ministério, não obstante as ofertas ou a satisfação do que se chamava pé de altar, serem bastante importantes... não existiam estações doutrinais, nem práticas espirituais, nem uso de catecismos da própria língua da terra que os naturais ignoravam” (Carta ao Governador do Bispado e Vigário da Cristandade de Timor), (In A Faria de Morais, Subsídio para a História de Timor, Bastorá, Índia Portuguesa, 1934, p. 39).

Não só as igrejas é que estavam desprovida, até alguns frades levavam vida escandalosa: ou dedicavam-se ao comércio de sândalo ou em comportamento morais pouco recomendáveis. Perante críticas de alguns sectores governamentais, sai o Vigário Geral dos Dominicanos, em Goa, em defesa do seus confrades: “ não assistem lá os religiosos continuamente por serem as mulheres muito lascivas virem todas para a casa do vigário, as mais moças, assim como de dia como de noite, sem poderem os religiosos porem cobro a isso remédio, mais que fugir-lhes, e ainda quando lá vão cumprir a obrigação de pároco, se recolhem nas casas dos reis, porque não têm outro modo para evitarem as visitas daquelas mulheres”. A despeito de toda a situação, podemos afirmar que o século XVIII, foi o período áureo da presença dos Dominicanos em Timor. Sobretudo no aspecto social. Na defesa das populações e no governo de Timor e na preservação da soberania portuguesa. Dos 17 Bispos de Malaca, um foi governadores interino de Timo Dom frei Manuel de Santo António), Um estava para ser nomeado, mas foi assassinado antes de se abrirem as vias de sucessão (Dom frei Gerardo de São José). Dos 27 Governadores de bispado, 4 padres dominicanos foram governadores interinos de Timor e Solor, ( Frei Jacinto da Conceição (primeira vez 1734-1739; segunda vez: 1756-1759); Frei António de São Boaventura( 1770), Frei Francisco da Purificação (1776), Frei Vicente Ferrer Varela (1834). Nesse período áureo, convém recordar o nome do Frei Alberto de São Tomás que escreveu um livro: “ Virtudes das Plantas Folhas, Cascas e Raízes de diferentes Árvores Medicinais de Timor”.(Macau, 1788-1779).

No dia 11 de Agosto de 1769, no tempo de Governador Teles de Meneses, foi a Praça de Lifau abandonada e reduzida a cinzas, embarcando a guarnição e população nos navios S. Vicente e Santa Rosa e outras pequenas embarcações. O Governador fez seguir os navios para o oriente, seguindo para Batugadé, e daí para Dilly, onde fundearam em 10 de Outubro do mesmo ano. A partir de então, o Governador do Bispado de Malacia e Vigário da Cristandade de Solar e Timor, passou a residir, ora em Manatuto, ora em Dili.

Circunstâncias várias fizeram com que o número dos missionários na Insulíndia fosse diminuindo de ano para ano. Em 1750, trabalhavam em Timor 50 dominicanos. Em 1775, o número baixava para 14. Em 1799, os dominicanos eram 8. No ano de 1802, só havia 5, em 1811, só um, que era o próprio governador do Bispado, frei José da Anunciação Gouveia.

Em 1834, deu-se a supressão das ordens religiosas em Portugal e nos domínios do Ultramar. Por falta de sacerdotes dominicanos, a Arquidiocese de Goa, mandou para Timor alguns sacerdotes naturais de Goa. De 1934 a 1875, relembramos o nome do Padre frei Gregório Maria Barreto, primeiro sacerdote e primeiro dominicano timorense. Em 1856, foi nomeado superior das Missões de Timor. Nesse ano, fez um relatório sobre o estado das Missões. No ano de 1856, havia 22 reinos em Timor, e em todos eles existiam pequenas comunidades de cristãos. Nos reinos existiam capelas, e só uma de alvenaria. (a de Motael). Nesse relatório, o padre Gregório Barreto advogava o aumento do clero nativo, a nomeação de um bispo que residisse permanentemente no território e a tradução da doutrina cristã para Tetun e Baiqueno (língua d Oe-Cusse).

A 15 de Junho de 1875, bela Bula, “Universis Orbis”, do Papa, Pio IX, as Missões de Timor foram agregadas à Diocese de Macau. E por essa mesma bula, foi nomeado Bispo de Macau, Dom Manuel Bernardo Sousa Enes, que chegou a Macau em 1877. Porém, em 1875, o bispo Enes havia nomeado Governador do Bispado, o deão Lourenço de Gouveia que mandou ao superior e vigário da vara das Missões de Timor que reconhecesse e fizesse reconhecer como seu Prelado, Dom Manuel Bernardo Enes. Outra medida tomada pelo deão Lourenço foi nomear um visitador para Timor, na pessoa do padre António Joaquim Medeiros, que depois de três meses de visita In loco propôs ao Prelado o recomeço da missionação em Timor. Foram então, enviados missionários europeus, procedentes do Real Colégio das Missões Ultramarinas de Cernache do Bonjardim. Reabriram-se as antigas missões, escolas, escola de artes e ofícios e escola de agricultura. Dom António Joaquim Medeiros convidou as Freiras Canossianas para trabalhar em Timor (1879). Convidou também os jesuítas, que só puderam assumir as Missão de Soibada, em Outubro de 1899. O Bispo D. António Joaquim Medeiros foi o “restaurador” e apóstolo das Missões de Timor, no segundo quartel do século XIX.

A Dom António Joaquim Medeiros, falecido em 1897, sucedeu o Bispo Dom José Manuel de Carvalho. Este Prelado dividiu território de Timor em dois vicariatos. O do Norte, com a sede em Lahane (Dili), sob a responsabilidade dos padres seculares, e o do Sul, ou Contra-costa, com a sede em Soibada, no reino de Samoro, e entregue aos cuidados pastorais dos padres Jesuítas. A Dom José Manuel de carvalho sucedeu o Bispo Dom João Paulino de Azevedo e Castro, natural da vila de Lajes, Pico, e que governou a Diocese de Macau e as Missões de Timor de 1903 a 1918. Em 1910, deu-se a mudança do regime em Portugal. E depois da implantação da República, em Timor, os Jesuítas e as irmãs canossianas foram obrigado a deixar Timor e as obras que até então dirigiam. Durante o seu governo, deu-se em Timor a chamada “guerra de Manufahi”, ou revoltas contra a soberania portuguesa. O chefe era o regulo Dom Boaventura, que tinha sido aluno das Missões em Lahane. O sucessor de Dom Paulino foi o Bispo D. José da Costa Nunes, nomeado em 23 de Novembro de 1920. Foi um dos grande apóstolos de Timor. Reduziu os dois vicariatos num só; fundou a Escola de preparação para Professores- catequistas, convidou as canossianas e os salesianos para trabalharem em Timor. Abriu nova missões e escolas. Inaugurou a Igreja Matriz de Dili, em Outubro de 1937, e encetou esforços no sentido de se criar uma nova diocese em Timor. Graças à sua diplomacia junto do Governo Português, e na sequência do estabelecimento da Concordata de 1940, as Missões de Timor, foram finalmente erigidas em Diocese, com a Bula “Somenibus Conventionibus”, do Papa Pio XII.. E para seu primeiro Bispo foi nomeado, o então Administrador Apostólico, Mons. Jaime Garcia Goulart.

 

publicado por op às 10:49 | comentar | favorito