15—Fundação das cristandades de Solor e Timor
15—Fundação das cristandades de Solor e Timor
Da caza de Malaca, de que ha pouco acabamos de escrever, sahirão para fundadores e primeiros obreiros da christandade de Solor quatro religiozos de S. Domingos no anno de 1561. Estão estas ilhas, que alguns chegão a numero de 60, oito grãos da banda do Sul e de Malaca, a quem pertencem por se comprehenderem em seu destrito, quatrocentas e oitenta legoas. Partira neste anno de Goa para Malaca o nosso Dom Frey Jorge de Santa Luzia, primeiro bispo desta igreja, e levava em sua companhia dous religiozos da ordem: o padre Frey Antonio da Cruz e Frey Aleixo, leigo, que consigo trouxera do convento de Aveiro quando paçou a Inda; a ajuntou-se a estes o padre Simão das Chagas, religiozo de grande espirito e outro de que nos não chegou a noticia o nome, e todos quatro de que hera prelado o padre Frey Antonio da Cruz mandou embarcar para Solor, com ordem de que pera iso devia levar do vigário geral da congregação, que ja então hera o padre Pre- zentado Frey Antonio Pegado, no governo do Conde Redondo, Dom Francisco Couttinho, pera que naquellas ilhas publicassem o santo evangelho e trouxessem aquella gentilidade ao conhecimento do verdadeiro Deos, o que elles com tam bom sucesso fizerão a principio que logo bauptiza- rão o senhor da ilha de Solor, que os naturaes chamão Sangue de Pate, que entre nos vai o mesmo que capitão, com cujo exemplo se forão bauptizando naquella ilha e na do Ende trinta legoas de
Solor, innumeraveis gentios, e o mesmo se fez na de Timor que fica pera o Sul, vinte legoas, onde forão os religiozos bem ouvidos, porque ja tinhão noticia da nossa fe que lhes havia levado o padre Frey Antonio Taveiro, que foi o primeiro religiozo nosso que nella entrou, pellos annos 1556, onde bauptizou mais de sinco mil gentios, como dis huma memoria. Na mesma christandade de Timor fez depois o padre Frey Christovão Rangel, hum dos doze companheiros que consigo levou o veneraval padre Frey Miguel Rangel, quando paçou a estas christandades por prelado, grande fructo, havendo muitos annos que nesta ilha não entravão os religiozos por se occuparem na conversão das outras; e entrando pello reino de Silabão, bauptizou o rei da terra e toda a gente de sua caza, com que se abrio caminho pera a conversão dos mays daquella ilha, sendo o padre Frey Christovão o primeiro Aminadab da ilha de Timor que o ceo lhe pagou, dando-lhe huma morte muito santa no convento de S. Domingos de Goa, para onde se recolheo enfermo de peçonha que em Timor lhe derão os mouros, envejozos da muita christandade que naquella ilha fizera .
Com tão bons princípios e novas que vierão desta christandade se animarão os religiozos desta congregação a prossegui-la, enviando mais obreiros, porque a seara prometia grande fructos e, como tão dilatada, necessitava de mais religiozos, e continuando elles com o mesmo zelo, trouxerão a nossa fe muita gente nobre e o príncipe herdeiro de hum reino de Timor, que o padre Frey Belchior da Luz levou consigo a Malaca para que fosse bauptizado com a maior solemnidade pello bispo Dom João Gayo Ribeiro que sucedera ao nosso Dom Frey Jorge de S. Luzia, o qual fez aquelle acto com pompa e magestade e assisteindo o capitão da praça e mais nobreza da cidade. Feito o batismo, voltou para Timor o padre Frey Belchior, levando o príncipe christão onde /334 v/ foi bem recebido dei rey, seu pay, e o padre muito respeitado, augmentando-se cada dia tanto a christandade por estas ilhas que consta de huma memoria chegarem a sincoenta mil os novamente bauptizados athe o anno de 1577, e todos muito obedientes e sogeitos aos religiozos de São Domingos, como ainda oje são, porque nunca conhecerão outros mestres nem pays espirituaes mais que a elles, nem os quizerão admittir, por haverem experimentado, que dos nossos religiozos tinhão não so o ensino mas também hum escudo para sua defesa contra seus inimigos, como mostrarão os sucessos que adiante referiremos.
cf.DOCUMETACAO PARA A HISTORIA DAS MISSOES DO PADROADO PORTUGUES DO ORIENTE
INDIA
COLIGIDA E ANOTADA POR ANTONIO DA SILVA REGO
VOL.VII 1959