19 — Ataque do Rei de Tolo a estas cristandades
19 — Ataque do Rei de Tolo a estas cristandades
He tempo de referirmos os muitos trabalhos que os religiozos de S. Domingos e christãos destas ilhas padecerão com as continuas invassõens dos mouros, jaós, que por vezes vierão infestar estas prayas com seus roubos e latrocinios, por rezão dos quaes hera necessário estarem sempre os religiozos com armas de que ha largas rellações.
Também o rey de Tollo, sobrinho do emperador de Macassar, com grande poder intentou a destroição desta christandade e plantar nella a maldita seita de Mafamede de que hera observantissimo e grande zelador. Com estes intentos aportou em Larantuca, com huma armada de trezentas gales, entre grandes e pequenas, com muitos mil homens, no anno de 1641 e mandou chamar o vigário dos religiozos, que hera o padre Frey Antonio de S. Hya- cinto, filho desta congragação, e o capitam, o que não querendo elles fazer, respondendo-lhe que o não reconhecião por seu rey pera hirem a seu chamado, dezembarcou em terra e começou pella igreja de Misericórdia que lhe ficava mais vizinha a destrohir a povoação, não perdoando as imagens sagradas. Vendo o padre Frey Manuel da Ressurreição, que entre os mais religiozos se achava em Laran- tuca, estes dezacatos, com grande zello, começou a animar a pouca gente que havia pera que sahissem ao inimigo asegurando-lhe da parte de Deos a victoria, o que assim sucedeo, porque dando-lhe huma carga de mosqueteria, matarão mais de trezentos e os mais com seu rey se forão embarcar com pressa e passarão pera hum porto chamado Lamaqueira, onde residem mouros e daqui fizerão viagem pera Timor e chegando ao reino de Mena, ameassarão a rainha e a outros reys que se havião bautizado, dando toucas de mouro ao de Servião e Vajalle, que naquella ilha he como emperador, asegurando-os na crença de Mafa- mede e prometendo-lhes grandes ajudas que não tiverão effeito, porque chegando ao Macassa, aonde se foi refazer, o matou sua própria molher com veneno, receando-se do marido per se haver desmandado com hum criado seu, nesta auzencia.
Com estas novas partio de Larantuca o capitão mor do mar, Ambrozio Dias, com cento e cincoenta mosqueteiros, levando por capellães aos padres Frey Bento Serrão e Frey Pedro de S. Joseph, e com os socorros que da rainha de Mena e dos reis de Liphao e Amanubão se lhe ajuntarão, forão buscar ao rey do Servião, cuia terra asolarão, obrigando-o a fogir e reconhecer seu herro, que elle fez, pedindo pazes e o bautismo que lhe deu o padre Frey Bento e a toda a sua família. Com este sucesso, que foi em Julho de 1641, se recolherão os nossos a Larantuca e mandarão ao padre Frey Antonio Cabral por procurador das christandades pedir socorro de gente a Manila, porque ainda em Solor se não sabia da morte dei rey de Tollo, nem da felice aclamação de el-rey Dom João.
Pera castigo do rey Vejale, se ajuntou segunda vez a gente de Larantuca, depois de compostas as couzas de Solor entre o capitão e o Payão que he o emperador /337 r./ do Ende, e ja nos annos antes, tinha feito christão o padre Frey Antonio de S. Jacinto, sendo a primeira vez prelado destas christandades. Com esta gente se partio para Timor o padre Frey Lucas da Cruz, vindo a segunda vez a Solor por prellado, levando consigo alguns religiozos e todos em companhia do capitãm mor Francisco Fernandes. Deste caminho bauti- zou o padre mestre a rainha de Batimião, viuva, e ao novo rey, de pouca idade, chamando-lhe Dom Pedro e a outras pessoas principaes daquelle reino e do de Amarace. Chegando as terras de Vejale, que ja estava esperando os nossos o fizerão fogir com morte de muita gente, largando sua corte, que foi despojo dos nossos, e muitas outras povoações que depois destroirão e queimarão, com que estas christandades ficarão quietas e forão augmentando-se grandemente, repartindo o padre mestre religiozos por todos aquelles reinos em que levantarão igrejas. E acabando isto, se veyo para a índia, por lhe chegar huma patente de vigário geral da congregação com ordem e obediencia do provincial que então hera o padre mestre Frey Alvaro de Castro, pera que logo viesse pera Goa com . que se não pode escuzar. Com esta honra lhe veyo também o lugar de Deputado do Santo Officio que sérvio athe ser nomeado inquizidor deste Estado, que exercitou dose annos, com muita satisfação, no qual tempo tornou a ser segunda vez vigário geral e acabou com os ordenados do Santo Officio a igreja de Curgua e faleceu em Setembro de 1663.